terça-feira, 27 de novembro de 2012

Num futuro não muito distante…




“Uma Distopia ou Anti-utopia é o pensamento, a filosofia ou o processo discursivo baseado numa ficção cujo valor representa a antítese da utópica ou promove a vivência em uma utopia negativa. São geralmente caracterizadas pelo totalitarismo, autoritarismo bem como um opressivo controle da sociedade. Nelas, caem-se as cortinas, e a sociedade mostra-se corruptível; as normas criadas para o bem comum mostram-se flexíveis. Assim, a tecnologia é usada como ferramenta de controle, seja do Estado, de instituições ou mesmo de corporações”. Assimilando esse conceito, é justamente o que podemos perceber ao assistir “Gattaca – Experiencia Genética”. Assim como a famosa tríade distópica literária formada pelos clássicos “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley; “1984”, de George Orwell; e “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess, “Gattaca” também continua essa linha de produções (literárias e cinematográficas) que exploram as possibilidades de uma suposta sociedade pertencente a um futuro não muito distante, formada pela perpetuação (muitas vezes absurda) de valores e costumes da modernidade calcada exclusivamente nas novas concepções tecnológicas.

Em “Gattaca”, o diretor Andrew Niccol nos expõe uma realidade na qual o sistema de castas serve como alicerce para a sociedade, essa lógica acaba por criar um preconceito muito grande em relação às diferentes castas, mas este é rapidamente legitimado pela ciência. Os bebês que nascem podem ser divididos em dois tipos: os Não Válidos, aqueles que são frutos do amor entre os pais, e os Válidos, os condicionados em laboratórios para serem perfeitos, ou seja, sem nenhum tipo de imperfeição natural do ser humano, como se fosse este algo artificial. Nesse embate entre “Filhos da Natureza” X “Filhos da Ciência”, Niccol sugere um intenso dualismo Acaso X Planejamento, é bom saber de tudo? É bom ter o controle absoluto sobre todas as coisas no mundo?

Vincent Freeman (Ethan Hawke), o primogênito, nasceu de modo natural, sem preparos genéticos. Ao começar pelo nome, podemos ter a noção de marginalidade em relação à sociedade, Freeman em inglês significa “Homem Livre”, em outros termos, Vincent era livre dos grilhões que acorrentavam todos os indivíduos que nasciam com preparos genéticos especializados (artificialidade), bem como seu irmão Anton.





Anton foi o segundo filho, fruto da tristeza dos pais ao saberem dos resultados dos exames de Vincent, estes alegavam que o garoto não passaria dos 30 anos e tinha propensão a sofrer de uma série de doenças. Sendo assim, os genitores de Vincent resolveram que o segundo filho seria preparado geneticamente em laboratório.

Desde pequeno, Vincent queria ser astronauta, tinha o inabalável desejo de ir para o espaço, sair do ambiente onde o total controle de determinada casta, elite, instituição, e corporação impera, ou seja, a terra. Porém, tem em seu código genético predisposições a doenças que não lhe permitem nada melhor em vida que o emprego de faxineiro. Para que fosse realizado seu sonho, Vincent bolou um plano de falsificação de sua identidade genética, auxiliado por Jerome Eugene Morrow (Jude Law), um Válido, mas que por ironia do destino se torna inválido ao sofrer um acidente, alternando desse modo os valores impostos a respeito de castas, pois um ser considerado pela sociedade como Não Valido, como Vincent, passa a ser Válido. Tudo segue perfeitamente, com muito esforço, até que um assassinato em seu emprego põe a farsa montada pelos dois em risco, podendo expor todo o seu passado de Não Válido.





O filme é uma espécie de profecia, pois o ambiente no qual se passa nos dá a idéia de um futuro não muito distante, e tendo o longa-metragem já mais de 10 anos, podemos considerar que o mundo em que vivemos hoje é uma espécie de “Mundo Gattaca”. Diversas experiências científico-tecnologicas que o Andrew Niccol retrata em “Gattaca – Experiencia Genética” pode-se ver hoje em dia nos laboratórios do mundo inteiro, graças aos avanços da engenharia genética e da biologia molecular. Assim como manda a cartilha de “Boas obras artísticas de ficção científica e distopias”, a película em voga serve como um alerta, uma advertência para a sociedade moderna não se tornar uma “sociedade Gattaca”. E como diz cartaz do próprio filme: “Não existe gene para o espírito humano”.



-       Bruno Lima